quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Contingência

     Pensar por si. Sem qualquer influência externa. Impossivelmente real. A humanidade é constituída pelo que observa. O homem é fruto desta ficção social, logo todo seu pensamento será ficção. Mesmo que seja único. Mesmo que seja para subverter. Para subverter e impor outra ficção. E para que assim outros pensem outras revoluções.  
     Todos os meios são impossíveis impróprios para derrubar tal ficção inoportunas para libertar. Mas essa consciência de que há uma ficção será real? Como surge. E mais: por que? Por que essa dúvida de que tudo é duvidoso? Uma consciência de que a consciência é falsa. Se tudo não existe como posso ser real se o que me constitui é esse mundo enigmático. O que é o mundo. Este formado por ideias. É sempre impendente ligado ao inexistente.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

"Não quero ser compreendido, quero ser sentido"

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

"Tudo é um ritmo,
da porta que fecha à janela que se abre,
as estações, a luz do sol,
a lua,
os oceanos, o crescimento
das coisas,
a mente individual das pessoas,
recorrente em todas elas,
pensar que o fim não é o fim,
o tempo que volta
elas mesmas mortas
mas outro alguém vindo.

Se na morte estou morto
na vida também
estou morrendo, morrendo.
E as mulheres choram e morrem,
as crianças só crescem
para se tornarem velhas.
A grama seca, a força se vai
mas vem outra voltando,
não a minha, não a minha.

E por sua vez morre.
O ritmo que projeta continuidade,
dobrando tudo a sua força,
da janela à porta,
do teto ao chão
iluminado no início,
sombrio no final."

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Pela noite

"Se o toque do outro de repente for bom? Bom, a palavra é essa. Se o outro for bom para você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. O pé, no fim do dia. A boca, de manhã cedo. Bons, normais, comuns. Coisa de gente. Cheiros íntimos, secretos. Ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua lá dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor? Quando você chega no mais íntimo, no tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. Você também tem cheiros. As pessoas têm cheiros, é natural. Os animais cheiram uns aos outros. No rabo. O que é que você queria? Rendas brancas imaculadas? Será que amor não começa quando nojo, higiene ou qualquer outra dessas palavrinhas, desculpe, você vai rir, qualquer uma dessas palavrinhas burguesas e cristãs não tiver mais nenhum sentido? Se tudo isso, se tocar no outro, se não só tolerar e aceitar a merda do outro, mas não dar importância a ela ou até gostar, porque de repente você até pode gostar, sem que isso seja necessariamente uma perversão, se tudo isso for o que chamam de amor. Amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. O amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. Se amor for a coragem de ser bicho. Se amor for a coragem da própria merda. E depois, um instante mais tarde, isso nem sequer será coragem nenhuma, porque deixou de ter importância. O que vale é ter conhecido o corpo de outra pessoa tão intimamente como você só conhece o seu próprio corpo. Porque então você se ama também." Caio F.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

"Quando pensava em parar, o telefone tocou. Então uma voz que eu não ouvia há muito tempo, tanto tempo que quase não a reconheci (mas como poderia esquecê-la?), uma voz amorosa falou meu nome, uma voz quente repetiu que sentia uma saudade enorme, uma falta insuportável, e que queria voltar." Caio Fernando Abreu